

O barracão da Deixa Falar está esquentando. Essas são as fotos de uma parte do carro alegórico principal do carnaval 2009. Vamos mostrar só um pouco pra preservar a surpresa.
SAMBA-ENREDO
AUTORES: MOACYR, WANDERLEY EXPLOSÃO, JORGE DA DONINHA
IANSÃ SOPROU O VENTO PRA XANGÔ
E O SEGREDO DAS ERVAS
AOS ORIXÁS SE REVELOU
A ESSÊNCIA É SOBERANIA
PODER QUE EMANA SABEDORIA
PRA CURAR, ALIMENTAR E PERFUMAR
FÉ, AMOR ESPALHAR
A SORTE E A VIDA MELHORAR
O VER-O-PESO É SEDUÇÃO
TEM ERVAS... TEM MAGIA
PRA ACABAR COM A AMBIÇÃO
E A BIOPIRATARIA
EM CULTOS, AMACIS E ARIACHÉS
FORTIFICAM BENZEDEIRAS E PAJÉS
NO SÃO JOÃO, CHEIRO CHEIROSO
OFERENDA A IEMANJÁ, FELIZ ANO NOVO
BANHO DE CUIA COM AS ERVAS DO PARÁ
DA AMAZÔNIA PRO MUNDO ENCANTAR
ABENÇOADA RIQUEZA
CONQUISTOU LUXO E NOBREZA
ALVO DA COBIÇA INFELIZ
DA FOLHA ATÉ A RAIZ
RESISTE IGUAL MEU CARNAVAL
O MANTO AZUL E BRANCO
PRESERVA O VERDE CONTRA O MAL
AXÉ, AXÉ, EWÊ ASSÁ, EXPLODE CORAÇÃO
EU AMO A DEIXA FALAR
MEU PAPAGAIO AMULETO DA PAIXÃO,
É A PROTEÇÃO QUE VEM DE OXALÁ
O Grêmio Recreativo Cultural e Carnavalesco DEIXA FALAR escolheu como enredo para o Carnaval 2009 a grande riqueza da floresta amazônica: o poder, a sabedoria, o mistério e a magia de suas folhas, ervas, sementes, raízes, flores e frutos. As espécies nativas ou as que elegeram a Amazônia como morada, mostrando seus usos em remédios, comidas, banhos, perfumes, cultos sagrados, mandingas, encantamentos e homenagens, passando pela indústria de cosméticos, reconhecida em todo o Brasil e no exterior, e chegando ao alerta para a necessidade de preservação desse grandioso ecossistema diante de constantes ameaças causadas pela ambição do homem. Ervas da floresta, cheiros do Pará são magia na Deixa Falar fala por si neste enredo.
Viajo para Belém do Pará, minha capital, em fardos, sementes, vasos, paneiros e vidros coloridos. No mercado de ferro do Ver-o-Peso sou vasta, farta e acessível a todos. Saio das mãos das cheirosas para aqueles que desejam seduzir paladares, realizar namoros, abrir caminhos atravancados, perfumar armários, defumar casas e searas. Vou aos cultos em forma de amacis e ariachés, Nas mãos de pajés, filhos de santos e benzedeiras emissárias de boas vibrações protejo e afasto mau-olhado, quebranto e malinezas. Em junho, sou homenagem a São João levada pelos vendeiros de porta em porta desde bem cedo gritam: olha o cheiro cheiroso pra tirar o catingoso! Em dezembro sou oferenda a Iemanjá, pra começar o ano novo com o pé direito. Na Mina são os tambores que me anunciam, nas hábeis mãos dos abatazeiros. Nas casas sou banho-de-cuia, gostoso de tomar no quintal, pra dar um volta de tardinha.
Saio da Amazônia pra conquistar o resto do Brasil e o mundo através da magia da química, que me transforma em incensos, infusões, loções, cosméticos, cremes de beleza e fórmulas de rejuvenescimento, carregadas de teor ecológico, através da indústria da beleza. Indústria que, pela sensibilidade e visão de Coco Channel e do perfumista Ernest Beaux, nos anos 20, com o óleo do pau rosa, madeira retirada do coração da Amazônia, perfumou rainhas como a da Inglaterra e a do cinema, Marilyn Monroe, me fazendo francesa para o mundo, elegante presença na moda, sedução em cada gota de Channel n° 5.
Sou alvo de piratas, ladrões e ambiciosos que vêem em mim a oportunidade de enriquecer. Forasteiros que se apossam de minha sabedoria e de meus segredos e, em sua busca feroz, me queimam, me arrancam, me cortam, e tentam me destruir, mas, mal sabem eles que também sou fera e que muitos me defendem. Que bate forte em mim um coração sobrevivente, formado pela esperança, pela determinação e pelo empenho de antigos espíritos guerreiros que iluminam cunhãs e curumins que me refazem em mudas nas quais refloresço sob a invocação de meu Rei Ossain “Ewê assá”.
Eu sou folha, sou flor, sou fruto, sou erva, sou raiz. Sou o menor e o maior de todos os seres, sou a floresta fundamental, essencial, sou a vida. AXÉ!”
Cláudia Palheta